Tolstói dizia que "não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência". E é com esse princípio que este blog inicia sua caminhada, abrindo espaço democrático para que o servidor da Câmara Municipal de Goiânia se expresse livremente, mas não esquecendo, também, que "tudo quanto aumenta a liberdade, aumenta a responsabilidade", como celebrava Victor Hugo. Seja bem vindo!!

sábado, 23 de abril de 2011

A ILUSÃO DE UMA POLÍTICA PÚBLICA DE TRANSPORTES

Por Marcos Araújo (*)

Na contramão do bom senso, autoridades do executivo e do legislativo goianiense querem distribuir mais 119 permissões para taxistas, através de licitação já aberta. Tudo em nome de criar uma cultura de “andar de táxi” em Goiânia, da execração de “investidores” e de se permitir que trabalhadores tenham acesso ao seu próprio meio de subsistência, o que é bastante louvável. Por outro lado, aparecem em reportagens de telejornais uns que se dizem taxistas afirmando trabalhar 18 horas por dia e não ter o que levar para casa ao fim de seu expediente.

Uma das alegações do ilustre vereador Elias Vaz, do PSOL, defensor da distribuição de novas permissões (ele queria que a quantidade fosse bem maior) por quem tenho grande admiração por ser pessoa ilibada, é de que a tarifa de táxi em Goiânia é muito alta e, por isso, não há a cultura de se andar de táxi, como no Rio de Janeiro e em outras capitais, além de que a quantidade de habitantes x táxis está muito aquém de outras capitais. Verdade. Entretanto, quem pode andar de táxi anda e quem não pode vai de buzão ou de biz ou de mototaxi. Outra alegação de alguns é de que os táxis não andam por aí, para que se possa esperar algum na rua, sendo preciso ligar para alguma rádiotaxi ou cooperativa. Verdade.

Vamos à análise e vejamos o que se pode inferir desses posicionamentos. Claro que concordo que os taxistas, aqueles que realmente pegam no batente, tenham acesso ao instrumento de trabalho. Porém, passageiro exige conforto e quer carro bom e novo. Um carro zero km, com o conforto mínimo que o passageiro exige, 1.6, está por volta de R$ 35 mil, já computados os descontos e isenções. Por exemplo, uma Parati Surf, completa, 1.6, duas cabeças (2010/2011). O financiamento não é difícil de pagar, se o profissional realmente trabalhar.

Lembremo-nos, entretanto, do que se diz, que o passageiro não tem a cultura de pegar o táxi na rua. Então, como esse profissional vai ter clientela? Precisa ter uma vaga em uma empresa de rádiotaxi ou comprar uma cota em uma cooperativa, para que possa ser chamado via rádio. Aí, começam os problemas. Ele precisa comprar um rádio e conseguir vaga em alguma empresa de rádiotaxi. Conseguindo a vaga neste tipo de empresa, tudo fica por sua própria conta. Mecânica, manutenção, pagamento da vaga na empresa, reboque, seguro etc. Se partir para o lado de uma cooperativa, ele tem tudo isso para cobrir e garantir um bom dia de trabalho, mas terá que desembolsar pelo menos R$ 80 mil para comprar uma cota. E sem financiamento!

Os vereadores dão conta de informações em que uma permissão, no mercado paralelo, está em torno de R$ 300 mil, o que não corresponde à realidade. Pode-se obter nesse mercado uma permissão por até R$ 60 mil e isso independe do permissionário estar vinculado ou não a alguma empresa. O permissionário pode vender seu carro de forma particular, mantendo sua permissão. De forma ilegal, vende sua permissão também, mas nada garante que quem venha a comprá-la vá ver o retorno do seu investimento a médio prazo. Ao contrário,costuma ser a longo prazo. Retorno médio de 1,5% a.m.

Os edis execram o investidor. À boca miúda, é dito que há por aí gente que tem muitas permissões. Quando comecei essa pesquisa, a partir do momento em que o assunto passou a ser discutido recentemente, não apareceu ninguém com esse perfil, mas pode existir. Porém, seria muito mais fácil que esse “mega investidor” criasse uma empresa e adquirisse as permissões em nome da empresa ao invés de usar laranjas. Com laranjas, não compensa porque é grande o risco de não ver de volta seu investimento. O “investidor” é aquele que compra uma permissão para explorar esse tipo de serviço. Paga pelo carro zero, pela permissão, pelos serviços e taxas para “arrear” o carro (deixá-lo pronto para o trabalho do ponto de vista legal), por uma vaga em uma empresa, desembolsando entre R$ 110 e R$ 200 mil, dependendo do veículo e da empresa a que se vinculará. Contrata dois motoristas que lhe pagam uma diária entre R$ 80,00 e R$ 130,00. Esses motoristas passam a ter condições de comprar roupa, calçado, comida, pagar aluguel e, enfim, levar suas vidas com dignidade, o que não poderiam fazer não fosse a figura do “investidor”.

Os taxistas, por sua vez, também numa visão obtusa, querem aumentar as tarifas, agora com o argumento de que o combustível sofreu vários reajustes recentes. Nesse aspecto, eles têm razão. Porém, o número de carros parados em pontos, à espera de um telefonema ou chamada via rádio, é assustador. Daí, muitos não terem mesmo o que levar para casa ao fim do dia ou da noite. E não vai ser aumentando tarifas (descontando o argumento dos reajustes de combustíveis) que vão conseguir mais passageiros.

Neste momento, não reajustar as tarifas dos táxis já seria diminuí-las. É preciso então criar a cultura de se andar de táxi. É preciso que aqueles que no momento não andam sejam incentivados a utilizar esse meio de transporte, quem sabe até em grupo, como se faz em cidades de outras regiões. Aí entra o Poder Público, com uma política pública de transportes. Uma tarifa razoável e uma campanha de esclarecimento e divulgação do uso do táxi já ajudariam bastante. O motorista sairia mais do ponto e pegaria passageiros na volta ao ponto de partida. Teria bastante trabalho. Os passageiros passariam a contar com a volta do táxi para o ponto e poderiam esperar por algum na rua. Estaria sendo implantada a cultura tão necessária para que essa classe trabalhadora pudesse auferir rendimentos melhores.

Não bastasse o mototaxista com sua concorrência, com tarifas pela metade ou até menos, colocar mais permissões à disposição, sem que se baixem as tarifas dos táxis, só vai levar a mais insatisfações por todos os envolvidos nesse tipo de serviço. Menos, é claro, para aqueles que decidem, mas que não dependem desses rendimentos.

(*) é jornalista e Assessor Técnico da Câmara Municipal de Goiânia
site: http://repensandopolitica.blogspot.com/2011/04/politicas-publicas.html#links

terça-feira, 19 de abril de 2011

EU AMO A CÂMARA, E VOCÊ?

Por Everaldo Leite

Desde que nós, recém concursados, fomos empossados na Câmara Municipal de Goiânia, muita coisa aconteceu, fomos bem-sucedidos em algumas questões e, infelizmente, fracassamos em outras. Com efeito, alguns colegas foram lotados em departamentos que pouco tinham a ver com sua escolha ou atributos profissionais, mas felizmente vários conseguiram um espaço correto onde trabalhar. De qualquer forma, atualmente, sinto que houve uma boa acomodação (com reequilíbrio emocional de muitos) e, inclusive, algumas resistências do princípio cederam lugar para uma convivência pacífica e prolífica junto aos servidores antigos da Casa e aos próprios vereadores.

De fato, a maior parte dos servidores antigos, em certo momento, passou a concorrer pelo sucesso dos novos colegas, fazendo com que boa parte se sentisse à vontade para desempenhar o seu trabalho e expor a sua criatividade. Não fosse assim e, é claro, estaríamos vivendo um “inferno” generalizado, ou numa situação litigiosa quando, por certo, não haveria vencedores. Eu, caso queira saber, tive uma sorte muito grande ao ser recebido na Diretoria de Controle Interno, onde bons desafios me aguardavam. Depois, ao passar pela Comissão Mista, onde fui apresentado aos processos que lá tramitavam e aprendi muito. E, por fim, quando passei a trabalhar na Primeira Secretaria, onde posso dizer que me senti valorizado.

Mas não é difícil encontrar colegas que se lamentam, especialmente por ainda não poderem mostrar todo o seu potencial técnico ou mesmo não conseguirem enxergar claramente um horizonte na sua vida profissional dentro da Câmara. O problema é que persiste certa desordem organizacional, que, na minha perspectiva, é resultado de conflitos passados e presentes, não somente entre servidores efetivos e comissionados, mas também entre os nobres interesses da Casa e as “paixões” dos vereadores. Talvez por isso tenhamos atualmente um quadro difícil de ser revertido, onde cargos de diretoria (e outros com gratificação) são destinados a pessoas estranhas à Casa – e não raramente ao serviço público – , simplesmente para acomodar compromissos políticos.

Por outro lado, a má-certeza de não poder modificar este estado de coisas levou muitos servidores, antigos e novos, a perder a confiança ou a esperança em alguma mudança positiva, que pudesse elevá-los ao status profissional ao qual têm amplo direito. Com a presença cada vez mais passiva do Sindicato e mesmo com o tempo de serviço (que se acumula em cada um e, naturalmente, cansa) dos servidores, se tornou muito fácil e oportuno para qualquer gestor (seja presidente ou diretores) cuidar de seus próprios interesses, atribuindo importância somente aos seus subordinados de “confiança”, marginalizando os servidores da Casa e seu potencial. Assim como se tornou extremamente fácil para estes mesmos gestores atar as mãos e as bocas de muitos servidores que não estão em condição de perder suas vantagens.

Sem embargo, os servidores efetivos da Câmara, sendo minoria em seu total de trabalhadores, carregam nas costas a responsabilidade da continuidade operacional e estratégica, sendo essenciais em termos de memória e conhecimento. Mas a sua efetiva valorização só se dá às migalhas, pois o reconhecimento é destinado espontaneamente para os passageiros (que chegam por outros processos) ou para aqueles que, com tempo, conseguiram construir suas cidadelas intransponíveis. Esta percepção não é somente de quem está interno à instituição, mas está declarada nos quatro pontos do município, ou onde moram as lideranças políticas e seus bolsões de votos. O que me leva a crer que, num mundo normal, isto deveria estar golpeando o brio de cada um, motivando a união de todos os servidores efetivos rumo a um desfecho mais justo.

Eu, por mim, tenho uma esperança crônica de que este estado de coisas será mudado, essencialmente quando passarmos a ter de volta um sentimento positivo em relação aos trabalhos do sindicato, que não podem ser apenas voltados ao lazer e ao restaurante (pão e circo?), e quando passarmos a dialogar com a presidência da Casa de igual para igual, olhos nos olhos, apresentando a ele e aos demais vereadores uma força renovada, e o nosso desejo sincero de colaborar com o crescimento da instituição tomando responsabilidades que são nossas por direito. Não precisamos mais viver sem enxergar o horizonte ou, pior, nos submeter sempre passivamente a cada dois anos a um novo grupo diretor, composto no calor de um conveniente arranjo, e muitas vezes sem nenhuma pretensão favorável ao servidor.

Por isso, estou lançando a seguinte campanha: EU AMO A CÂMARA, E VOCÊ?

Everaldo Leite é Assessor Técnico Legislativo (Economista), membro do Conselho Fiscal do Sindicato dos Funcionários do Legislativo Goianiense (Sindflego), Economista, Conselheiro e Vice-presidente do Conselho Regional de Economia 18ª. Região (Corecon).